Crescida entre samambaias e porcelanas com desenhos de vegetais. Lembranças envanescentes, borradas.
Gritos e medo, uma gata debaixo da cama para compadecer-se do meu tremor. Onde estava o meu lugar? O que fazia eu aqui? Se a natureza havia dito tantas vezes não, você não pode nascer.
A bolsa ia tecendo-se incontrolavelmente, com seu couro cada vez mais grosso. Mas ela não impedia que a dor entrasse, e os gritos seguiam a chacoalhar vidros insanos.
Orações, figuras de santos e uma esperança de mudança. Conversas com amigos imaginários e uma gata comigo debaixo da cama. Cinco anos e uma consciência madura. Cinco anos e o desejo da morte.
Às vezes ainda tenho cinco anos. Às vezes sinto a falta daquela fé estampada em figuras apagadas de santos. Às vezes procuro motivos e só encontro pedradas, vindo a toda velocidade na minha direção, de TODAS as direções. Eu quero parar, eu quero descer. Eu quero encontrar uma palavra que não corte, uma reação que não me sangre.
Estou exausta.